SBT analisa “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”: será que em algum desses universos a Marvel consegue escrever um bom roteiro?
A mais nova superestreia do universo Marvel está disponível nas salas Cineflix
Geralmente eu dedico meus primeiros parágrafos a enfatizar o quanto eu estou exausto desses filmes galhofas de heróis, então para não ficar completamente repetitivo serei breve. Precisei deixar o final de semana de estreia de lado para driblar as multidões ensandecidas e escandalosas que não entendem o conceito de sala de cinema, e escolhi uma sessão perfeita para assistir ao filme: segunda-feira, 22h10 da noite, sessão em áudio original. Tendo o privilégio de estar sozinho na sala, pude me contorcer e me ver corroendo de dentro para fora à vontade sem me preocupar se alguém pudesse achar que eu estava tendo um derrame, a cada justificativa pateta que o roteiro apresentava. Possivelmente, em uma sessão lotada, com marvetes gritando como se gols estivessem sendo feitos em meu ouvido, eu teria abandonado o cinema e recorrido a pirataria.
O filme acompanha o Vingador mágico que precisa proteger uma garotinha que possui a habilidade ímpar de viajar entre universos e, claro, se esse poder cair em mãos erradas pode ser o colapso de todos eles: bastante original...como sempre. A enraizada “fórmula Marvel” trava uma batalha de proporções interdimensionais contra seu diretor, Sam Raimi, para tentar dissuadi-lo de seu propósito de tentar fazer um bom filme, mas Raimi não se entrega e consegue expor todo seu estilo mesmo lutando contra sua própria criação. Ele sabe exatamente onde e em qual momento investir cada pitada de sua maneira de fazer cinema, gerando uma contradição: mesmo genérico e derivado, o filme consegue ter sua própria identidade, exclusivamente graças ao seu diretor, que fique bem claro. Agora imagine um artista visual como ele, tendo um orçamento ilimitado para montar seu projeto? Infelizmente, você terá apenas que imaginar, pois, bem como vimos em “Os Eternos” não interessa a grandeza de um diretor, a entrega será o mesmo material pasteurizado de sempre.
A todo o momento o filme perde diversas oportunidades de ser mais do que é, bem como a série “WandaVision” que apresenta uma narrativa completamente diferente até então dentro do universo, mas eventualmente se entrega a mesmice que me fez proferir a seguinte aspa “quando vira Marvel, fica ruim”. Com “Doutor Estanho 2” não é diferente, o filme apenas finge ter a intenção de ser estranho caindo no marasmo de sua fórmula, o tornando ainda mais frustrante. Isso torna o filme uma faca de dois gumes, pois nota-se em seu terceiro ato, onde apenas o diretor de “Arraste-me Para o Inferno” conseguiria exprimir mais de seu terror escrachado e sequências de ação visualmente formidáveis e são esses momentos que passam perto de resgatar o filme, mas só ficam no quase.
Ao invés de deixar a criatividade conduzir o longa, “Multiverso da Loucura” revisita incessantemente os traços de seus personagens que são incrivelmente superficiais; o amor tácito de Strange (Benedict Cumberbatch) por Christine (Rachel McAdams), a dor de Wanda (Elisabeth Olsen) e a incerteza sobre seus poderes de Amanda (Xochitl Gomez), onde nada ressoa alto o suficiente. Os arcos são tão fracos, que até as performances acabam sendo afetadas. Cumberbatch está bem e a vontade no papel, mas o roteiro é tão limitado que quando ele não está proferindo algum diálogo com Wong (Benedict Wong), onde este segundo jorra exposição barata, está correndo desesperadamente de uma cena de CGI para outra. Gomez tem o carisma de um guardanapo e as expressões faciais de uma tela em branco, não passa disso. Até mesmo Olsen, que acertou tão em cheio em sua última performance, aqui dá um passo para trás em relação a série que leva seu nome. Eu entendo que não se pode esperar um estudo de personagem em um filme como este, mas aqui a insignificância com esse aspecto é mais aflorada se compararmos com outros trabalhos da editora.
Infelizmente não consigo não fazer um paralelo com a realidade em que vivemos hoje, os filmes da Marvel entorpecem o público com a sua majestosa beleza visual, embebedam com as incontáveis doses de saudosismo, nostalgia e fan services e ainda prometem um futuro ainda melhor, aspectos que aparentemente conseguem mascarar a qualidade nada mais que medíocre de seus filmes, onde este parece novamente uma cobra comendo seu próprio rabo, onde ficou claro, novamente , que o feitiço já se acabou para mim.
Nota do Crítico: 4.0
Nota Média do Público (IMDb): 7.5
Horários das sessões no Cineflix do Shopping Praça Nova, em Araçatuba
Dublado: 15h, 19h10, 21h45 e 22h
Dublado (4K): 16h10 e 21h50
Dublado 3D (4K): 19h
Legendado: 19h20 e 22h10
Classificação Indicativa: 14 anos
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