SBT analisa “A Casa Sombria”: um filme que ao tentar se explicar, acaba se confundindo

A incerteza é um assustador estado de ser

SBT analisa “A Casa Sombria”: um filme que ao tentar se explicar, acaba se confundindo -


“A Casa Sombria” lembra mais histórias de fantasmas antigas do que propriamente filmes de terror mais recentes, sempre homogêneos e, há muito tempo, saturados. Utilizando-se de uma protagonista não confiável, somos lançados na vida de Beth, interpretada pela sempre bem Rebecca Hall, que acabara de perder o marido, o qual se suicidou com um tiro na cabeça, e está presa em um ciclo de luto pela perda do companheiro, raiva por não notar os sinais que levaram o marido a cometer tal ato e alcoolismo para tentar suportar a realidade que a foi imposta. Interpretação que me lembrou, Rooney Mara em “Sombras da Vida”, Nicole Kidman em “Os Outros” e Toni Colette em “Hereditário”. Além destes sentimentos habituais após uma perda, Beth também começa a ter sonhos intensamente assombrosos envolvendo o suicídio do ex-marido e percebe que talvez não esteja tão segura quanto o mesmo a prometera em seu bilhete deixado antes de se matar.

Praticamente presa naquela casa de lago, predileta dos espíritos, que antes fora um paraíso e agora é a extensão do sofrimento de Beth e do túmulo de Owen (Evan Jonigkeit), ela começa a investigar os pertencer deixados pelo ex-cônjuge e, aos poucos, percebe que Owen talvez não fosse quem ela acreditava que ele era.  Mexendo em uma das caixas, ela encontra livros sobre ocultismo com anotações de Owen, denotando ainda mais que o ex-marido tinha vários segredos sombrios. Conforme as investigações continuam e algumas verdade vem à tona, os sonhos, melhor, pesadelos, aumentam sua frequência e intensidade. O grau de confusão tanto de Beth, quanto de quem a assiste é o mesmo: será que tais sonhos são mensagens do espírito do ex-marido ou são fruto de um psicológico completamente abalado e distorcido pelos vários copos de conhaque?

O roteiro de Bem Collins e Luke Piotrowski transforma Beth tanto em uma investigadora, tentando descobrir esse passado umbroso do ex-companheiro, quanto uma sobrevivente, durante as investidas desse possível sobrenatural. Sempre quando alguém comete suicídio, o pensamento que permeia àqueles próximos é de que algo estava sendo escondido para que o desfecho fosse este e o filme começa a partir desta ideia. A princípio, parece ser a simples história da viúva que descobre traições, evidenciado na foto de outra mulher, similar a ela, que Beth encontra no celular de Owen, mas não se engane, sem spoilers, ele escondia muito mais.






A casa é tão personagem aqui quanto Beth, acentuada por uma fotografia soturna, novamente, quase que uma extensão da tragédia e dos sentimentos da protagonista. A típica casa de filme de terror é bem utilizada, mesmo que na maioria do tempo com clichês do gênero: barulhos em cômodos distintos, porões escuros para serem investigados de forma solitária e uma floresta que com luz parece bela, porém ao cair da noite, se torna ameaçadora. Todos os aspectos técnicos estão a favor de um só propósito e o fazem bem: causar a desorientação. Temos também, como meras muletas para as investigações de Beth, alguns outros personagens esquecíveis, que como são bem adjetivados, foram colocados no texto durante minha revisão.

”A Casa Sombria” caminha bem quanto percorre os caminhos da incerteza, visto que histórias de fantasma devem ter algumas áreas não exploradas e pontos deixados para serem conectados, mas conforme avançamos junto as descobertas da protagonista, o filme anseia em se explicar e criar soluções racionais, dentro daquele universo, que além de abandonar quase que todas as suas boas ideias, culmina em um desfecho previsivelmente anticlimático. É um filme sobre luto e tal sentimento é perfeitamente exposto por uma incrível interpretação de Hall, mas tem seus melhores momentos, que não são poucos, quando entende que a incerteza é um assustador estado de ser, preocupando-se em despistar a percepção e os piores quando tenta esclarece-los.

 

Nota do Crítico: 6.0

Nota Média do Público (IMDb): 6.9

 

Comentários