SBT analisa “Batman”: o melhor filme do Batman, mas não o melhor filme de um Batman

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SBT analisa “Batman”: o melhor filme do Batman, mas não o melhor filme de um Batman -


“Batman” de Matt Reeves não é um filme de herói. Mesmo tudo estando ali: o batmóvel, o super traje de combate, as bugigangas, o cinto de utilidades, os antagonistas peculiares e no meio disso tudo nosso justiceiro encapuzado, solitário, atormentando buscando em suas ações algum senso de justiça noturna através de um sentimento poderoso: vingança.

O jovem Bruce Wayne (Robert Pattinson), apenas há 2 anos “trabalhando” como vigilante noturno de Gotham City, se entrega as trevas enquanto um seria killer deixa pistas e rastros enigmáticos que levam Batman a investigar o submundo corrupto e criminoso da cidade sombria. O primeiro destaque, notado logo com um minuto de rodagem vai para a paixão que o diretor tem para com sua visão criativa. Já nos primeiros segundos, vemos e ouvimos o que a mente noir e opressiva de Reeves são capazes de criar e vão nos mostrar nas próximas horas de projeção. O diretor consegue, como já havia feito em trabalhos anteriores (trilogia Planeta dos Macacos), criar uma realidade espetacular, eletrizante e divertida, mas baseando-se em apostas reais e emocionais. Reeves entende o lugar desse filme dentro da cultura pop, mas prefere reconhecer a tradição do personagem de quadrinhos, apenas para examiná-lo e reinventá-lo de uma maneira substancial e ousada. Temos então um vigilante que precisa questionar sua história e seu propósito e fazendo isso, nos desafia, como espectadores, a questionarmos as crenças e narrativas das quais nos apegamos em nossas próprias vidas.

Mesmo com o trabalho sublime de casting, onde todos os atores se encaixam perfeitamente para com suas personas, os holofotes não recaem em outro que não seja o homem-morcego. Se você espera teores mais humorados como os filmes da formuláica e preguiçosa concorrente, esqueça. Esse Batman é carregado de melancolia, e tudo aqui corrobora para o senso de pessimismo: uma Gotham caindo em miséria e decadência, fotografada com uma estética escura, onde em vários momentos a câmera parada encarando a escuridão nos dá a oportunidade de sentir o medo de saber quem está por vir. A escolha visual do diretor relembra filmes da década de 40 e 70 e mais recentemente “Zodíaco” (2007), onde este último é bastante usado aqui. Até mesmo nas sequências de ação e combate, não se vê mais do que se quer mostrar, chegando ao ponto de clarões de disparos de um fuzil serem as únicas fontes de luz para que saibamos o que está acontecendo em cena. É aí que entra o excelente trabalho de som de “Batman”, a trilha é um show à parte, onde ambos os aspectos técnicos somam-se e complementam-se para que o teor do que se mostra seja mais relevante do que o que realmente é mostrado.

Muito foi falado sobre a extensa duração do longa, quase 3 horas de rodagem. Em um primeiro momento fiquei com a sensação de algumas cenas arrastadas demais, principalmente aquelas que tentam engrandecer o Batman, se tornando um pouco redundantes. A imponência do personagem já havia sido destacada e imposta na sequência de abertura, os lembretes a todo momento acabam evidenciando um senso de repetição e novamente o sentimento de redundância aparece. Após refletir um pouco sobre o filme, mantenho minha visão sobre tais cenas, porém em momento algum as duas horas e cinquenta e cinco minutos pesam, muito pelo contrário, o anseio por mais daquela história é o que fica.






No meio de tudo isso, temos um Robert Pattinson assumindo o papel de Bruce Wayne e, consequentemente, Batman. ESQUEÇA O VAMPIRO QUE BRILHA, já são quase 15 anos. Aqui temos um ator preparado e, ainda mais, faminto para explorar os instintos mais grotescos e soturnos dessa figura. Ele não é um herdeiro arrojado de uma fortuna incalculável arrasando em uma fantasia legal. Ele é uma espécie de Travis Brickle no Batsuit, desapegado e desiludido. Ele está há dois anos em seu mandato de Batman, vigiando e punindo criminosos que assolam sua cidade, tudo isso de cima da Torre Wayne, adaptação que sugere ainda mais um isolamento da sociedade. “Eles acham que estou me escondendo nas sombras. Mas eu sou as sombras.” Ele entoa em uma narração de abertura. Na luz do dia, Pattinson, nos dá vibrações de uma estrela de rock com ressaca, mas é à noite que vemos a pressa que ele sente ao mergulhar e executar sua versão de vingança. Isso funciona de forma perfeita, pois o ator aparentemente entrega seu melhor quando seus papéis o deixam mais desconfortável. Pattinson consegue ser ainda mais habilidoso que Christian Bale em fazer suas feições belas parecerem inquietantemente estranhas. Um simples espiar pela janela de Selina Kyle (Zoë Kravitz), seus olhos gritam: “Ela é uma aberração, assim como eu”. Isso salienta o fato de que não há uma dualidade entre as personas de Bruce e Batman, diferentemente de outras versões, aqui, com ou sem a máscara, eles são a mesma pessoa. A química entre os dois é atônita. A combinação é perfeita, tanto física quando emocional. Kravitz não é uma Mulher Gato que flerta ou ronrona, ela é uma sobrevivente com um forte senso do que é certo. Nas sempre precisas palavras escritas por um grande amigo: “Ela nasceu para esse papel.”

O alto teor investigativo do filme colabora para o que ele tem de melhor: seus personagens e suas interações, a ausência dos diálogos potencializa ainda mais o que realmente importa: as reações. É sabido que a galeria de vilões e antagonistas do Batman é a melhor do mundo dos quadrinhos e, novamente, com as excelentes escolhas de elenco, isso fica imposto também em tela. Desde os personagens com menos tempo de tela, como o caso de Carmine Falcone (John Turturro) e o Pinguim (Colin Ferrell), irreconhecível devido o excelente trabalho de maquiagem, até o arco protagonista, todos tem seu momento tanto de desenvolvimento quanto de mostrarem sua importância para o enredo. Principal destaque para Jeffrey Wright, um James Gordon fiel, porém precisamente imponente. Roteiro o qual pode-se se dizer que a qualidade destoa um pouco se comparada com outros aspectos do filme. O texto entrega um desfecho não tão incrível como a possível promessa criada proveniente de um ótimo desenvolvimento. Trocando em miúdos, as duas horas e meia iniciais são bem mais poderosas que o apenas sólido desfecho. As malfeitorias principais aqui são maquinadas pelo horripilante Charada (Paul Dano). Ele eleva sua interpretação a pontos extremos, que me fez lembrar de seu brilhante papel em “Sangue Negro” (2008). A perturbação do personagem é tão intensa que me peguei rindo apenas para tentar quebrar a atmosfera de tensão criada pelo vilão. Esqueça Jim Carrey, Dano faz você sentir o mais profundo sentimento de assistir a um homem verdadeiramente perturbado.

As comparações com “Batman - O Cavaleiro da Trevas” serão inevitáveis, até mesmo pelo tom que Matt Reeves aborda em seu filme, porém nunca me esqueço de uma frase que um outro amigo me disse para se referir a qualidade distinta do segundo filme da trilogia de Christopher Nolan: “Se esse filme nem tivesse o Batman, ele seria incrível”. Concordando com a explanação deste, fica claro então a principal diferença entre as duas obras: diferentemente do longa de Nolan, “Batman” (2022) jamais poderia existir sem seu homem-morcego.

Nota do Crítico: 9.0

Nota Média do público (IMDb): 8.6

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Dublado: 17h30, 18h, 21h e 21h30

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Classificação Indicativa: 14 anos

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