SBT analisa “Duna”: Inegavelmente maravilhoso, mas se você não fizer parte do nicho, insuportável

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SBT analisa “Duna”: Inegavelmente maravilhoso, mas se você não fizer parte do nicho, insuportável -


Primeiramente vamos deixar algo bem claro: eu não li o livro. É sempre importante lembrar outra coisa, não interessa a origem do roteiro, um filme deve sempre sustentar-se por si só. Creio que eu era o único apaixonado por cinema que não nutria nenhum sentimento de expectativa ou ansiedade para com “Duna”. Repito, não li o livro, não gosto do filme de 1984, o gênero cinematográfico não me agrada, então meu sentimento era de pura indiferença com o projeto, até que o nome de Denis Villanueve surge. O diretor que em sua carreira não possui nenhum filme bom, todos flutuam entre os adjetivos ótimo e espetacular. Com essa notícia, o interesse aumentou, mas estava longe do frenesi orgástico das outras pessoas. Logo pela metade da rodagem, me peguei pensando como um filme poderia ser tão derivado, mas logo o pensamento equivocado deu lugar a reflexão óbvia: “Duna” não é derivado, mas sim derivou incontáveis trabalhos, podendo até citar os clássicos do cinema “Mad Max” (1979) e “Blade Runner” (1982). Conforme o texto for se desenvolvendo, ficará nítido as similaridades com outras obras mais populares.

Aqui, Paul, um jovem duque é assombrado por sonhos premonitórios e concomitantemente com isso precisa desenvolver e aprender a lidar com um super poder bem parecido com a força de manipulação de vontade dos Jedi, chamado “A Voz”, podendo ou não ser “O Escolhido” de uma profecia qualquer. Como plano de fundo temos a burocracia imperial envolvendo o planeta Arrakis, o qual possui a substância mais valiosa do universo, um tipo de pó alucinógeno que possibilita as viagens interestelares, logo, quem a controla terá um poder e influência imensurável. Após decisão do imperador, há uma troca de quem ficará responsável pelo planeta, deixando os bárbaros (eu não vou perder tempo colocando cada nome de cada povo, pois é de completamente irrelevância) e, agora, ex-comandantes revoltados, iniciando uma disputa política e sangrenta pelo planeta desértico. A criação daquele universo é meticulosa, deste a iconografia das Casas (título para cada povo), ao cuidado inventivo do figurino, à fantástica e profunda mitologia, à criação de um mundo extremamente minucioso e regado de detalhes visualmente criativos . Em alguns momentos são tantas informações para absorver que, se se você, como eu, não tiver um conhecimento aprofundado daquela cosmologia, pode-se pegar coçando a cabeça para juntar todos os pontos, mas isso em momento algum tira o foco da trama principal.  

Tecnicamente, “Duna” é impecável. A sensação que fica a cada quadro é que Villanueve trava uma batalha ferrenha consigo mesmo para a criação da cena perfeita e quase todas as veze ele vence. As nuances do diretor aqui são dignas de nota, e uma nota bem alta. Ele, nunca foi, e aqui não é diferente, um diretor impaciente. O prolongamento de suas sequências, requer que o público seja tão paciente quanto ele, mas a recompensa são composições magistrais. Ao seu lado, assinando a trilha, o maior de todos: Hans Zimmer. Bem como seu diretor, Zimmer parece ser incapaz de realizar um trabalho sonoro que não seja menos que brilhante. A trilha sonora evoca muita lamúria, mas outrora quando é tribal, se torna pomposa. Somado a uma cinematografia vistosa manipulando apenas o cinza e o bege, temos homenagens que vão de “Lawrence na Arábia” (1962) à “Apocalypse Now” (1979).

A narrativa é um caso aparte. Faço um exercício a seguir: se “Blade Runner 2049” (2017), também de Villanueva, te faz dormir, “Duna” te colocará em coma. Até mesmo as sequências de ação, mesmo muito deslumbrantes visualmente, padecem de força devido a melancolia intrínseca da narrativa. É um filme que promete mais do que cumpre, exemplo disso são os vermes gigantes de Arrakis.






O elenco é repleto de estrelas e também de talento. Tymothée Chamlet convence com um duque em desenvolvimento pessoal, cheio de incertezas e inseguranças por poder ser o humano que poderá trazer paz àquele universo. Villaneuve conhece seu ator e todo o carisma que o envolve, abusando de close-ups para enaltecer seu protagonista, que está sempre muito bem penteado. Rebecca Ferguson é o coração do filme, diz muito com olhos sem precisar proferir nenhuma palavra. Possuindo uma angústia subjacente, vem dela as cenas mais emocionalmente carregadas, onde o ponto algo é a relação mãe e filho, como personagem de Chalamet. As diversas camadas foram instauradas e algumas começaram a ser abordadas, porém as, aparentemente, mais interessantes foram deixadas para a, ainda não confirmada, sequência. Oscar Isaac está operante como pai e símbolo da Casa em que representam, sem muito a escrever mesmo sobre o personagem. O destaque positivo é de Jason Momoa, como tem pessoas que não veem carisma nesse homem?! Um guerreiro como nome mais badass da galáxia, Duncan Idaho, que casa muito bem com a força guerreira do mesmo. Seu pouco humor, que consegue contrastar bem com o tom astroso, funciona e sua ausência é sempre sentida. Javier Barden não faz muito, mas quando faz, acerta. É um personagem para o futuro.  Dave Bautista e Josh Brolin quase não fazem, sendo que o primeiro quando faz, erra e o segundo, acerta. Stellan Skarsgard é um vilão que convence, grotesco e essencialmente ameaçador, aliás esses dois últimos adjetivos descrevem bem o universo de “Duna”. E tem a Zendaya, que vai começar seu arco num possível próximo filme da franquia. O perigo aqui é a não confirmação de um próximo projeto, dependo exclusivamente do retorno financeiro, onde diferentemente de “Kill Bill” (2003), o filme termina de forma abrupta demais, deixando a expectativa para que a franquia continue.

“Duna” sempre emana derivação, mas não se engane, essa obra não bebe da fonte de ninguém, mas sim serve como o nectar da vida para muitos outros sucessos. No aspecto técnico, é inegavelmente categórico, mas seu ritmo moroso, somado a uma narrativa completamente nichada, pode tirar o foco da beleza daquela película e instaurar um tédio mortal. Como apaixonado por cinema, amei ver “Duna”, mas duvido que irei revisitar essa obra novamente.

Nota do Crítico: 8.0

Nota Média do Público (IMDb): 8.3

Horários das Sessões Cineflix em Araçatuba, Shopping Praça Nova:

Dublado: 15h10,18h15,21h20

Legendado: 21h50

Classificação Indicativa: 12 anos

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