SBT analisa “O Homem nas Trevas 2”: sequência troca de gênero e perde toda identidade

A troca de diretor influenciou diretamente na obra

SBT analisa “O Homem nas Trevas 2”: sequência troca de gênero e perde toda identidade -


Se no primeiro filme, com um roteiro, sendo bem generoso, medíocre, o longa conseguia, pelo menos, em seus melhores momentos fazer com que o espectador esquecesse os absurdos que estava vendo em tela, aqui isso não acontece.

Cerca de oito anos após os eventos e a chacina do primeiro filme, de 2016, o foco dramático é completamente diferente, se antes o ex-fuzileiro naval, cego, Norman (Lang) era apenas a ameaça slasher para os adolescentes, aqui o holofote reluz sobre o militar, o tornando nosso protagonista. O idoso vive uma vida, dentre os seus padrões, pacata com a filha Phoenix (Grace) e o cachorro Shadow, o qual mesmo após esse longo período de tempo entre as histórias dos dois filmes demonstra a mesma vivacidade como se nenhum dia houvesse passado. Já na abertura, o roteiro denota a dinâmica da relação entre os dois: uma criação ironicamente superprotetora, pois, por um lado, a garota não pode ir à escola ou sair de casa, mas deve participar de treinamentos militarizados extremamente perigosos para um adulto, quiçá para uma garotinha de onze anos. Se concluir todos os testes físicos e acadêmicos, a jovem garota pode, como bonificação, ir à cidade, já que vivem um pouco mais afastados dos centros de Detroid. Para se divertir? Não, para fazer compras com a, também ex-militar Hernandez (Arcila) e seu, literalmente, cão de guarda. Provando que a visão não foi a única coisa que o idoso perdeu, mas também alguns parafusos.

Na cidade, durante a visita da garota, ao ir à um banheiro público de um posto de combustíveis sozinha (a paranoia do pai não era suficiente para Hernandez acompanhá-la). Quando se depara com um homem que demostra perigo à menina, imediatamente, o cachorro da jovem surge e a salva do que poderia ser um sequestro, deixando nítida duas coisas: o antagonista do longa e quem terá a primeira morte. Após deixar a garota em casa, antes do sol se pôr, exigência de Norman, Hernandez, no caminho de volta para casa, se depara com o mesmo rapaz, que a havia seguido, e, agora com sua trupe. O desfecho é tão óbvio quanto tudo até agora. Após assassinar, brutalmente com um martelo, a moça, os cupinchas se dirigem para a casa de Norman, onde buscam sequestrar a garota, por motivações e relações que quanto menos você souber, melhor, pois se eu expostas, a vontade de ver esse filme irá se esvair completamente do seu ser.

Bom, plot estabelecido, vamos ao momento pelo qual paguei, caro, pelo ingresso do filme: a dinâmica dentro da casa. Aspecto, mesmo que um pouco exagerado, angustiantemente funcional no primeiro filme. Se antes tínhamos adolescentes tentando roubar a casa de um homem cego e, eventualmente, tendo que escapar do mesmo, nessa sequência temos uma inversão de papéis, se no longa de 2016, Norman era o caçador, agora é a caça, pelo menos na primeira metade da rodagem. Tendo que enfrentar todos os bandidos da trupe de Brandan Sexton lll, o velho, desta vez, se mostra quase que uma reflexo do personagem da Marvel, Demolidor, pois a violência imposta nas cenas de ação juntamente com sequências de luta bem mais coreografadas, onde nota-se um abandono dos trejeitos animalescos que o personagem possuía no primeiro filme.

Após muita ação, inegavelmente bem acentuada por uma fotografia, obviamente escura, fazendo ótimo uso das sombras e o belo trabalho de som, a garota, é capturada pelo grupo de bandidos e é aí que o roteiro abandona por completo o suspense imposto e esperado para se entregar de corpo e alma a ação. Mesmo com as excelentes sequências de ação que se sucedem a partir daí, o diretor, agora Rodo Sayagues (A Morte do Demônio) praticamente apaga, ainda mais, pois desde o início não há menções ao primeiro filme, o trabalho de 2016, se tornando um genérico filme de vingança. O roteiro pede muito parar que o senso de realidade do espectador esteja completamente desligado, pois se já difícil crer que Tom Cruise faça o que faz na série de filmes Missão Impossível, imaginar esses mesmos feitos por um cego é abusar demais da inteligência de qualquer um. Após massacrar todos os membros daquela pequena facção de drogas, Norman, e nós, descobre o real motivo do sequestro da garota e, claro, salva a jovem. O sacrifício final é tão tocante quanto o desenvolvimento e a relação de pai e filha dos dois, ou seja, sentimento nulo.

O Homem nas Trevas ll, mesmo com todas as ótimas sequências de ação visceral, o filme perde o que de melhor seu antecessor possuía: identidade. Chamar de antecessor é quase que uma ofensa ao sólido primeiro longa, pois as únicas semelhanças ou referências de um para com o outro e o take de abertura e a reciclagem do personagem de Lang, pois além disso, tom, roteiro e, principalmente, gênero são completamente alterados, excluindo contato com uma boa obra e sendo uma sequência que apenas exprime ligação com o anterior quando lemos o título. Se você teve contato com O Homem nas Trevas (2016) e está ansioso para ver essa sequência, digo e repito, o quanto menos você souber sobre, melhor, pois a quantidade de informações que se tem sobre o filme e a vontade de vê-lo são inversamente proporcionais.

Nota do Crítico: 4.0

Nota Média do Público (IMDb) 6.7

Comentários