SBT analisa “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”: um filme qualquer nota, qualquer nota abaixo da média

A saturação do universo Marvel está insuportável

SBT analisa “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”: um filme qualquer nota, qualquer nota abaixo da média -


Novamente temos uma história de origem. Desde sua abertura, o longa denota diversas similaridades tanto a outros filmes do universo, quanto várias outras películas do gênero. Na Marvel, logo em sua abertura, vemos uma semelhança com Thor, já fora do Marvelverso remete a qualquer obra que apresenta qualquer aspecto sobrenatural que não seja da cultura americana. Uma narração em voice over nos apresenta a Xu Wenwu (Tony Chiu-Wai Leung), que, há mil anos, após encontrar os dez anéis, artefatos dotados de poderes incalculáveis, começa sua jornada de dominação e controle mundial através do tempo, visto que os anéis o proveram vida eterna. Não satisfeito com apenas dominar este mundo, Wenwu busca encontrar o mundo fantástico de Ta Lo para, obviamente, abranger seu império banhado a sangue. Na tentativa de invasão ao local mágico, ele se apaixona pela guardiã Jiang Li (Fala Chen) e movido por tal amor, abandona suas investidas maléficas e vai viver uma vida de família de comercial de margarina. Demônios do passado voltam para assombrar o patriarca da família, acarretando na morte de Li, fazendo com que Wenwu, movido por vingança, transforme seu primogênito no melhor assassino do mundo, tornando-se então o personagem que intitula a obra. Some isso a uma briga entre Chi e a irmã mais nova Xialing (Meng’er Zhang) envolvendo abandono e temos a disfuncionalidade crucial para o desenvolver da genérica trama.

Somos lançados ao presente, onde Simu Liu estrela Shang-Chi, a priori Shaun, um chofer de hotel que aparentemente parece muito satisfeito com a vida medíocre que leva ao lado da também chofer e melhor amiga inseparável, Katy (Awkwafina), parte crucial na fórmula Marvel, notoriamente presente aqui, como portadora do fardo de criar jocosidades a todo momento em que articula uma frase. Shang é a chave para uma família que está um caos devido as lutar internas. A disfuncionalidade dos membros dessa família é mais importante que os dez anéis, que mesmo não sendo um conhecedor de bijuterias lembram mais pulseiras, para o caminhar da narrativa, visto que os artefatos são um mero, e único, artifício para que tenhamos um vilão com imponência, já que o ator que o faz não transmite tal postura.

Mesmo tentando esconder, por quase toda sua vida, seus segredos do mundo e, principalmente, da melhor amiga, a identidade de nosso novo herói vem à tona da forma mais convencional possível em um filme dessa categoria: ele provando seus dotes marciais em público e, claro, na frente de Katy, onde em um ônibus desgovernado, criado com um CGI pífio, recurso que se mantém adjetivado dessa forma ao longo de todo o filme, Shang nocauteia uma dúzia de assassinos de aluguel enviados pelo pai. É a partir daí que a pasteurização Marvel se acentua, apenas nessa cena, temos referências à filmes como Anônimo (locação e combate), e Oldboy, onde o enquadramento e o combate são os mesmos, porém padece de técnica, estilo e identidade. Após se mostrar para o mundo, já que todas as peripécias foram filmadas e compartilhadas, Chi e Katy vão até Macau, onde após alguns fãs services mostrando antigos e novos personagens da editora, Shang se encontra com a irmã e minutos depois são capturados pelo pai, para que ele exponha seu plano mirabolantemente sem nexo para trazer a ex-esposa de volta da morte.

O plano é simples. Wenwu clama ter ouvido a voz da ex-mulher pedindo ajuda, dizendo estar presa do lado de fora do portão que a levaria de volta à Ta Lo, deixada para sofrer pela eternidade. Ele então se torna um Darth Vader chinês, tentando reunir os filhos, que são as duas últimas e mais poderosas peças de um quebra-cabeças que forma um exército de assassinos, para destruir Ta Lo e trazer seu amor de volta dos mortos, sendo que este reino nem representa o pós-morte. Isso faz qualquer tipo de sentido para vocês?  Shang-Chi e Xialing, claramente veem que o pai precisa ir à um psicólogo para seguir em frente, se opõe ao mesmo e, novamente, a família volta a ter mais conflitos internos, que é a problemática exposta e arrastada por todo o filme.

A sensação que permeia a todo momento das desnecessárias, duas horas e quinze minutos de rodagem é de déjà-vu, pois vemos e revemos cenas, sequências, piadas e diálogos que o universo já proveu inúmeras vezes anteriormente com personagens e tramas bem mais construídas. Até em seu melhor, pois há sim qualidades de produção aqui, que são as sequências de ação, as quais, pelo ocidente ser conhecido por artes marciais características, brindam o público com coreografias acima da média, não são necessárias para sustentar tanto tempo de drama genericamente barato. Eu entendo que estes estúdios colossais, Marvel, Pixar, encontraram suas fórmulas e elas funcionam dentro do pressuposto fazer dinheiro, porém se o senso crítico se torna minimamente aguçado, notamos que somos bombardeados por megaproduções repetitivamente cansativas. Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis não é ruim, mas é preguiçoso e sem qualquer tipo de ambição, onde o que se vende em tela é o futuro e nunca o presente, nos pegamos sentados nas salas de cinema, sempre de forma cíclica, não vendo o que pagamos para ver, mas sim aquilo que futuramente, da mesma maneira, pagaremos para ver algo que, novamente exibirá o futuro esperando o evento que irá culminar essa nova fase dos estúdios Marvel.

Nota do Crítico: 5.0

Nota Média do Público (IMDb): 8.1

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