SBT analisa “Velozes e Furiosos 9”: um racional caos descontrolado

Filme está em cartaz em todos os cinemas de todo o Brasil

SBT analisa “Velozes e Furiosos 9”: um racional caos descontrolado -


Eu não tinha expectativas algumas para com esse filme, visto que já havia abandonado a franquia há muito tempo e apenas reavivado o interesse em revisitá-la para ver em tela a homenagem, que se provou emocionante, feita para o então recém-falecido ator e astro dos carros velozes Paul Walker no sétimo filme da série. Homenagens feitas, meu sentimento de indiferença voltou à tona e nem me dei ao trabalho de assistir a sequência, ou o oitavo filme.

Não se engane, o sentimento que tenho por Toretto e sua “família” seguia o mesmo antes e ainda segue igual após assistir esse filme, porém uma série de fatores me fez vê-lo: o primeiro, a saudade que estava de ver um filme na telona e sentir o ambiente imersivo, mesmo que vazio em minha sessão, que a sala de cinema proporciona e a necessidade que eu tinha de escrever este texto.

Somando esses fatores, eu pensei “Ah, porque não?” e creio que esta frase resuma o que é “Velozes e Furiosos 9”. Em filmes anteriores, já havia ficado muito claro que a franquia abandonou completamente as corridas de rua e se transformou em uma espalhafatosa mistura híbrida entre os filmes “Missão Impossível” e os da série “Duro de Matar”, onde Dominic “Dom” Toretto (Vin Diesel) agora não é mais apenas conhecido por vencer rachas organizados na cidade, mas sim por ser uma espécie de super espião com recursos ilimitados que trabalha para uma divisão do governo americano extremamente secreta chefiado pelo, com um nome de vilão de James Bond, Sr. Ninguém (Kurt Russell) (fator “Missão Impossível”).

Em prólogo, o longa abre, em 1989, mostrando Jack Toretto (JD Pardo), pai do jovem Dom que ganha a vida pilotando para uma escudeira da Nascar. Durante uma de suas perigosas corridas, Jack faz uma parada nos boxes e após um sermão sobre a importância dos pequenos momentos para o filho, sofre um acidente e morre na pista, traumatizando o jovem e ainda com cabelo Dominic Toretto. Após a sequência de abertura, o filme corta para o presente, onde Dom e Letty (Michelle Rodriguez) vivem uma pacata vida em uma casa de campo com o pequeno filho Brian (Isaac Holtane). Tudo muda completamente, quando são visitados pela dupla original Roman (Tyrese Gibson) e Tej (Ludacris) e a novata Ramsey (Nathalie Emmanuel), que mostram um vídeo do avião Sr. Ninguém sendo atacado e saqueado, onde o figurão pede ajuda para o grupo.

Diante da vida que leva e não querer trazer mais perigo para seu filho, Toretto nega a oferta para surpresa dos demais, alegando que “as coisas mudam”, menos a escolha de regatas branca apertadinhas. Como o grupo não é o mesmo sem o careca bombado de sua voz grossa (FAMMM-ILY), Dom aceita o convite de participar de mais uma missão suicida, como se as últimas não bastassem para evidenciar que o grupo e os filmes já deveriam ter se aposentado. No último momento de embarque, nosso herói, com uma entrada triunfal e muito ronco de motor, se une ao resto da turma. Já na primeira sequência de ação, emulando “Indiana Jones e o Templo da Perdição”, o filme deixa claro uma coisa simples: se milhares de balas vindo à direção de um personagem, minas terrestres por todo o território e um exército não são capazes de atingir aquelas pessoas, as leis da física vão afetá-los muito menos.

O roteiro, como não poderia e nem conseguiria ser diferente, é o básico do básico. Como é incapaz trazer quase nada de inovador (quase, pois tem umas loucuras novas sim), o roteiro faz uma reciclagem quase que completa de tudo que uma nona sequência poderia oferecer: um vilão extremamente genérico que apenas é mau para suprir a necessidade de existir um antagonista na trama, um guarda-costas brutamontes que gera uma luta final fantasiosa com algum dos personagens principais, um super astro de luta-livre, apenas escalado para trazer mais público ao cinema (antes The Rock, agora John Cena), e interpretar um familiar perdido e nunca antes citado na franquia, que no caso é o irmão mais novo e renegado de Dom, participações especiais de estrelas da música (Cardi B) e do MMA (Francis Nganou),uma computação gráfica primária para compor as ridiculamente hilárias cenas de ação, milhares, mas milhares mesmo de frases de efeito e um twist final que já havia sido revelado nos primeiros quinzes minutos das, desnecessárias, duas horas e vinte de rodagem.

Posso execrar o quanto eu quiser as questões técnicas do filme, que são realmente patéticas, porém “Velozes e Furiosos 9” não existe para apresentar um bom roteiro, ou fazer o espectador pensar, muito pelo contrário, existe para te fazer esquecer da vida e assistir durante duas horinhas as maiores maluquices que um roteirista pode pensar no momento de escrever um filme de ação, e isso o filme faz de forma excelente. Mesmo com essa reciclagem que citei, a maioria das cafonices funciona dentro da proposta, os embates de rostos franzidos entre Cena e Diesel são ridiculamente cômicos, as piadas entre Gibson e Ludacris ainda funcionam, devido a ótima química da dupla e a paixão de Toretto com Letty, mesmo que brega, consegue soar verdadeira dentro do universo.






Mas quem vai ao cinema para ver um filme dessa franquia não se interessa tanto em ver questões como essas, mas sim qual será a próxima peripécia irracional imposta em tela, e isso o filme proporciona aos montes. Envolvendo as máquinas, temos carros pulando de precipícios e se unindo magneticamente a aviões, cordas de pontes enganchando no pneu de carros para passarem de um lado para o outro de um desfiladeiro, exatamente como o Tarzan, uma perseguição envolvendo um caminhão blindado que lembra muito “Speedracer” e, bem como memes antigos de Facebook previram, a Terra não é mais suficiente para a franquia, que agora explora sua órbita, sim, eles saem do planeta com um carro! Já envolvendo os personagens, balas que não os acertam em hipótese alguma, explosões que não os queimam, acidentes que não os acidentam e fatalidades que não os matam. O que deixa o questionamento: “Ah, porque não?”

Pelo menos, a franquia entende o que é e em momento algum se leva a sério, mas se entrega a galhofice e entrega um produto que consegue ser muito mais do que aquilo que era o esperado: um caos descontrolado, porém racional. E não se engane, em uma cena pós-créditos, técnica que não para de ser mais usada (obrigado Marvel), indica que vem mais filmes pela frente, mostrando que bem como seus personagens, a franquia também é indestrutível.

Nota do Crítico: 5.0

Nota Média do Público (IMDb): 5.5

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