SBT analisa "King’s Man: A Origem": o filme é a origem da franquia, mas tomara que seja o fim

O terceiro filme da franquia de ação está disponível nas salas de cinema Cineflix, em sessões dubladas e legendadas

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Eu poderia dedicar mais um dos meus primeiros parágrafos para enfatizar o tamanho do meu sentimento de repulsa para com a falta de criatividade assolando Hollywood, culminando nas, aparentemente, infinitas sequências desnecessárias. Porém acho que quem lê os meus textos já têm uma certa noção do meu posicionamento. Em “King’s Man: A Origem” não é diferente: existência desnecessária e qualidade atroz.

Após uma tragédia familiar, evidenciada no início da projeção, o aristocrata Orlando Oxford (Ralph Fiennes) torna-se um pacifista e dedica sua vida a educar e, principalmente, proteger o filho Conrad (Harris Dickinson). Como pano de fundo, temos a Primeira Guerra Mundial e os conflitos gerados entre grandes figurões da época.

Logo de cara, o filme tenta se levar a sério quando o assunto é contextualização política e histórica sobre guerra e pacifismo, mas, sempre, de forma abrupta não te deixa esquecer que tais elementos são apenas um pano de fundo para um dos filmes de franquia de ação mais galhofa e estúpido dessa “Era das Sequências”. Você pode estar se perguntando se eu não estou sendo muito injusto para com o longa, visto a abordagem mais espalhafatosa da franquia, porém a todo momento, o diretor e co-roteirista  Matthew Vaugh decide por entrar em discussões mais profundas, que divagam entre colonialismo e o custo que a guerra causa na vida humana, deixando a sensação de que Vaugh gostaria de dirigir um filme mais dramático sobre a Primeira Guerra, porém acabou tendo que se contentar com uma segunda sequência da franquia “King’s Man”. Isso acaba acarretando um dos maiores problemas do filme: sua falta de identidade. “King’s Man: A Origem” fracassa em tudo que tenta ser, seja um filme de espionagem, de guerra ou até mesmo em um filme de franquia.

Roteiros como esse me fazem refletir muito se os anos que eu gastei me especializando em escrever foram jogados no lixo, visto que o texto de “King’s Man: A Origem” parece ter sido escrito por um técnico em informática fã de filmes B de ação, não por um roteirista profissional. Nada, absolutamente nada aqui faz algum sentido. Seja a causa do conflito, a geração das motivações, ou até mesmo os laços familiares apresentados, é um filme que abusa e zomba da boa-fé do espectador. Os diálogos são calamitosos, eu prometo que é impossível ficar mais de cinco minutos sem revirar os olhos ou se contorcer de agonia na cadeira da sala de cinema. Quer um exemplo? “Eu bebo uma pequena dose de veneno todas as manhãs para ficar imune a venenos.”. Pegue a lógica dessa afirmação e espalhe por mais de duas horas de rodagem e temos nosso filme.






A aplicação da estética exagerada, vista nos dois filmes anteriores da franquia também está presente aqui, exemplo é a excelente sequência de embate entre pai e filho protagonistas contra um dos vilões principais, cenas que, com a exceção citada padecem de estilo e identidade, diferentemente do primogênito da série. Mas então qual a razão de abandonar o tom e se levar a sério? O fato que parece ter sido notado, denotando um claro arrependimento da direção, tentando voltar atrás com um terceiro ato que esbanja extravagância. Porém, novamente, devido ao roteiro decidir adotar discursos mais carregados no segundo terço da projeção, a transição para o tom cômico se torna abrupta demais.

Um filmes como esse, acaba sendo mais difícil avaliar o elenco do que encontrar camadas nas obras do Terrence Malick. O máximo que posso dizer é que todos são operantes, pois é um casting abarrotado de talento, porém desperdiçado, por serem personagens escritos com características unicamente unidimensionais. Ralph Fiennes interpreta um homem com traumas de guerra que tenta proteger o filho da violência do mundo, porém inevitavelmente precisará abandonar seus ideais e sujar as mãos de sangue. Djimon Hounsou é o fiel escudeiro de Fiennes e treinador do filho Conrad (Dickinson). Ele luta bem com espadas, é isso. Gemma Arterton tem mesma função de Hounsou, porém usa armas de fogo. Conrad possui um fetiche patriótico em morrer pelo país em guerra, simplesmente para haver um conflito com o pai. Pelo menos ela gera um momento repetitivamente inesperado (quem viu o filme de 2015, sabe do que eu estou falando). Os vilões conseguem ser mais rasos ainda, são maus ou por uma influência infantil ou pelo simples fato de gostarem da vilania.

“King’s Man: A Origem” é um produto sem necessidade de existência e por isso não possui ideia ou noção do que fazer com seu ótimo elenco. Mas o principal problema aqui é seu roteiro, que tenta ser um filme de ação, guerra, mas possuir um discurso de pacifismo, tendo que se encaixar na estética da franquia, e obviamente falha em todas essas tentativas. O filme poderia ter a noção do que deveria ser,  entender o que realmente é, e ter o cavalheirismo de não se chamar de King’s Man.

Nota do Crítico: 2.0

Nota Média do Público (IMDb): 6.8

Horários das Sessões Cineflix em Araçatuba, Shopping Praça Nova:


Dublado: 16h20, 21h50

Legendado: 19h05

Classificação Indicativa: 16 anos

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