SBT analisa ”Espiral: O Legado de Jogos Mortais”: a maior tortura desse spin-off é ter que assisti-lo

Filme está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil

SBT analisa ”Espiral: O Legado de Jogos Mortais”: a maior tortura desse spin-off é ter que assisti-lo -


“Espiral: Legado de Jogos Mortais” consegue ser ainda mais medíocre que qualquer uma de várias sequências da saga. Se no longa de 2004, James Wan nos apresenta uma narrativa que propõe novas ideias e as aproveita da melhor forma para criar uma história calcada em um suspense repleto de tensão com um senso de emergência angustiante, aqui temos o outro extremo do espectro. O filme recicla ideias de seu primogênito e nem assim consegue apresentar uma narrativa que segure a atenção do público acarretando em um desperdício todas as suas pouquíssimas boas ideias.

Obviamente, o filme abre com uma das, marcantes da série de filmes, armadilhas mortais. Um policial a paisana persegue um, até o momento, meliante comum, após este ter furtado a bolsa de uma mulher durante as festividades do feriado de 04 de julho nos Estados Unidos. Rapidamente, o agente da lei é atraído para os trilhos de metrô da cidade de Nova Iorque, onde, claro, é capturado após ser deixado inconsciente ao inalar, sempre, clorofórmio. Informado por um boneco, desta vez de um porco (Pigsaw?), as regras do jogo mortal, ele tem a opção de se soltar da armadilha decepando a língua, devido a suas falsas testemunhas do passado, antes que o trem o deixe em pedaços. O desfecho é o esperado para a trama poder continuar, possivelmente deixando o motorista do trem traumatizado.

É então que nosso protagonista, o detetive, já deixado claro de cara que possui muitas inimizades na força policial e questionamentos pela maioria dos colegas de trabalho devido a problemas do passado, Zeke Banks (Chris Rock) e seu novo parceiro William Schenk (Max Minghella), após sofrer recusas de Banks por preferir e dizer em voz alta que é melhor trabalhando sozinho, como qualquer policial em filmes de investigação genérico, assumem o caso, rapidamente entendendo que o criminoso é um imitador de JigSaw. Desta vez, sabendo desses problemas internos envolvendo o departamento, o assassino decide usar desse artifício e, assim, as vítimas que serão torturadas até a morte serão os companheiros de departamento de Zeke (Rock).

Bem como na série de filmes Star Wars, onde é esperado uma mega arma aniquiladora de planetas com um ponto cego que se atingido apenas uma vez a destrói por completo, no universo de “Jogos Mortais”,o mínimo que o espectador que já entendeu que não tem mais como tirar leite daquela pedra, procura ver em tela, as famigeradas engenhosas armadilhas de JigSaw, e aqui bem como a qualidade da motivação do antagonista em detrimento a do “vilão” original da franquia, as armadilhas sofrem de uma queda de qualidade colossal. Elas dão a impressão de serem algo mais próximo a requisitos contratuais do que uma produção criativa dos idealizadores do longa, onde uma arapuca que decepa dedos lembra mais a ideia de um bêbado em bar do que a de um roteirista de Hollywood.

“Espiral” sofre de muitos outros problemas, além do citado acima, que na minha opinião é o principal tendo em vista que eu não esperava um roteiro minimamente elaborado em um filme como esse. O estilo oitentista imposto ao gênero, regado à diálogos com frases de efeito, somado a presença de Rock, apresentado ao grande público como um, ótimo, comediante, a sensação que permeia de forma constante o longa é de uma paródia de filme policial, sendo muitas vezes pelo tom de voz quase cômico de Rock, pelas piadas e tiradas que ele usa para responder seu parceiro novato ou pela expressão facial com a testa sempre franzida que denota a tentativa incessante e falha do ator de impor seriedade ao personagem.

Se as armadilhas são obrigatórias na franquia, outro ponto a ser destacado é a necessidade vital de uma reviravolta mirabolante, que se em “Jogos Mortais” (2004), mesmo um pouco incoerente, funciona muito bem para o fechamento em aberto da trama, já em “Espiral”, o diretor, Darren Lynn Bousman, subestima o público acreditando que sua reviravolta será uma impactante surpresa, e realmente seria se não fosse desvendada por qualquer pessoa que dedique o mínimo de atenção à tela na metade do tempo de rodagem.

Várias temáticas são abordadas no longa, a corrupção policial, tentativa da quebra deste paradigma tanto de forma branda, quando de forma radical, o que gera o conflito, anticlimático e pouco crível, protagonista/antagonista, mas em suma, “Espiral: Legado de Jogos Mortais” é um filme que abandona o que de melhor poderia ter: a inspiração criativa para criar armadilhas engenhosas para entreter o público em meio a um universo já saturado e um roteiro, na melhor das hipóteses limitado, e aposta em uma investigação policial genérica com traços, não propositais e, pior ainda, não condizentes com a proposta temática do longa, que em momento algum apresenta algo que faça valer sua existência. Em entrevista, Rock disse, durante a produção de “Espiral” que o filme apresentaria a maior armadilha da saga e se ele se referia ao filme em si, o ator não poderia estar mais certo, pois nenhuma outra armadilha dos outros oito filmes proporciona quase duas horas de tortura.

Nota do Crítico: 2.0

Nota Média do Público (IMDb): 5.3

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