A fonte da juventude

A fonte da juventude -


Quando os braços trêmulos do pugilista norte-americano Muhammad Ali seguraram a tocha olímpica dos Jogos de Atlanta, em 1996, a doença de Parkinson se apresentou ao mundo. Naquela época, também, praticamente ninguém havia ouvido falar em Alzheimer, apesar da patologia neurodegenerativa ter sido descrita em 1906. As pessoas, basicamente, morriam antes dessas doenças se manifestarem.

Somente em 1978 a expectativa de vida da humanidade atingiu os 60 anos, segundo a Organização das Nações Unidas, idade que o órgão reconhece oficialmente como o início da fase idosa. De lá para cá o desenvolvimento econômico, a medicina e políticas sociais levaram a esperar que uma pessoa nascida hoje viva pelo menos até os 73 anos.

A duração natural do Homo sapiens é de 70 a 80 anos. Isso significa que a ciência e o desenvolvimento social ainda não prolongaram o tempo de vida da espécie, elas apenas conseguiram nos salvar da morte prematura. Porém, mesmo ainda longe de ultrapassar os 80 anos de expectativa de vida, o ser humano trabalha com ambições maiores, munido de novas tecnologias em engenharia genética, saúde e nanotecnologia (escala atômica e molecular).

O prolongamento da vida com a ajuda da computação se tornou obsessão no Vale do Silício e bilionários da tecnologia há 20 anos começaram a despejar recursos em iniciativas antienvelhecimento. O Google investiu US$ 1 bilhão em 2013 para criar a Calico e aumentar a vida útil das pessoas. Peter Thiel, cofundador do PayPal, aportou milhões de dólares em pesquisas por meio da Fundação Methuselah para tornar os “90 anos os novos 50 até 2030”. Essas empresas ainda têm pouco para mostrar, mas seguem confiantes na maneira peculiar como enxergam a morte.

Por que os seres humanos morrem? Porque em determinado momento o coração para de bater, porque células cancerosas se espalharam pelo corpo, porque um vírus se instalou nos pulmões. São diversas causas e todas elas são entendidas como falhas técnicas pelos fundadores das startups de biotecnologia. Para eles, problemas técnicos são resolvidos da mesma forma que erros de um programa de computador. Eliminando as falhas, uma por uma, alcançaremos a vida eterna.

Chegar a uma expectativa de vida de 100 anos já provocaria profundas mudanças na estrutura familiar, na carreira profissional, na economia, no sistema financeiro, nas religiões e no estilo de vida. Afinal, com algumas décadas a mais para viver, há o mesmo apelo para juntar o primeiro milhão de dólares até os 30 anos? Imagina o que acontece se tornarmos comuns indivíduos saudáveis e produtivos aos 150 anos.

O avanço da ciência e da tecnologia no século 21 deu tanto poder ao ser humano que ele hoje enxerga como dever desafiar o que a natureza instituiu durante milhões de anos.

A imortalidade – ou ao menos algo que lembre isso – constitui a maior demonstração de força que o Homo sapiens pode alcançar. E a ambição do homem é suficientemente grande para comprar a batalha contra a finitude, hoje diminuída a uma falha técnica.

Crédito da imagem: marymarkevich | Freepik

Comentários