Um robô no retrato da família

Um robô no retrato da família -


O mundo ultrapassou os 8 bilhões de habitantes, mas diversos países correm risco de sumir diante do forte declínio das suas taxas de natalidade que, associado à tendência do envelhecimento, reduz dramaticamente a força de trabalho e a economia. O Japão está nesse grupo e aposta na tecnologia robótica para mudar o quadro – o governo quer que em 2025 as famílias adotem máquinas que assumam as tarefas domésticas para, assim, motivar os cidadãos a ter mais filhos.

Lá o mercado foi inundado por robôs, dos mais simples aspiradores de pó aos complexos cuidadores de idosos. Com novos papeis, as máquinas desbravam uma indústria bilionária. Estudo do banco de investimentos Goldman Sachs estima que robôs humanoides para trabalhos domésticos movimentarão até US$ 150 bilhões em 2035.

No entanto, a robótica dá saltos qualitativos neste momento. Com o desenvolvimento de chips, componentes e design junto com sistemas de aprendizagem de máquina, os robôs ultrapassam a capacidade de realizar tarefas domésticas repetitivas para se tornarem companheiros autônomos dos seres humanos.

Paro é um robozinho simpático na forma de uma foca bebê que aprende sobre o comportamento de seu dono e age para provocar uma resposta positiva. Vendido por cerca de US$ 5 mil, ele é usado no Japão na terapia com idosos e na recuperação de pessoas que sofreram paralisia e problemas de mobilidade. Sua capacidade de simular emoções como alegria, raiva e surpresa cria uma ponte para a interação entre máquina e ser humano: Paro consegue aumentar significativamente o diálogo e as trocas sociais entre os pacientes e deles com seus cuidadores.

A tecnologia serve para tratar doenças e reverter diversos estados negativos que silenciosamente se alastram na sociedade, como solidão, ansiedade e autoestima baixa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), somente no primeiro ano da pandemia da Covid-19 a depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25%. Os robôs sociais se colocam, então, como poderosa alternativa de tratamento.

Porém, há enormes desafios técnicos e sociais até a popularização das máquinas inteligentes. A começar pela duração da bateria, que hoje compromete. As dificuldades passam ainda pela aceitação dos robôs no cotidiano humano, uma vez que um volume substancial da população global tem receio de abrir voluntariamente a casa para eles.

O Japão está adiantado nesse aspecto. Enquanto o ocidente desenvolveu a inteligência artificial a partir da área militar e do marketing, o país asiático focou em dimensões da vida que exigem suporte emocional e relacional. Ao longo dos anos, a sociedade japonesa parece ter aceitado os robôs, pois hoje os vemos espalhados por aeroportos, lojas e universidades programados para oferecer tanto informações e soluções físicas quanto acolhimento emocional.

Enquanto para muitos a proximidade com os robôs assusta, o Japão quer que eles façam parte da família para cuidar dos cidadãos atuais e estimular o surgimento das futuras gerações. O país depende dessa salvação.

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